O analista, o real e a época – notas em progresso
“Cada época tem seu fascismo e a isso se chega de muitos modos, não necessariamente com o terror da intimidação policial, mas também negando ou distorcendo informações, corrompendo a justiça, paralisando a educação, divulgando de muitas maneiras sutis a saudade de um mundo no qual a ordem reinava soberana, e a segurança dos poucos privilegiados se nutria do trabalho e do silêncio forçado da maioria”[2] (Primo Levi).
I. Testemunho
Por que ao propor o procedimento do passe, Lacan elege o testemunho como modalidade de transmissão da passagem de analisante a analista? Tal eleição teria alguma relação com os testemunhos de sobreviventes que naquele momento, mais que no período imediatamente posterior ao final da guerra, circulavam na cena europeia? Um dado digno de nota, que não passou despercebido em minha pesquisa nos arquivos do Centro di Studi Primo Levi, é que, coincidência ou não, no contexto dos testemunhos de sobreviventes dos campos de concentração nazistas aquele que transmite a outros o testemunho de um sobrevivente é chamado de “passador” [3]. Passador era também o termo utilizado para se designar as pessoas que passavam judeus das zonas ocupadas para zonas livres durante a guerra.
Em conferência proferida por ocasião da abertura da XXII Jornada da EBP-MG, Christiane Alberti enfatiza que Lacan teve muito em conta o laço social e as suas transformações, ao ponto de registrá-lo, em sua teoria, como um real que devemos levar em consideração[4], evocando, na esteira do texto da Proposição de 9 de outubro de 1967, o campo de concentração e os testemunhos dos sobreviventes como os fatos históricos tributários da integração do real à sua teoria. Tal eleição não parece desarticulada do ponto trazido à luz por Clotilde Leguil, ao afirmar que ademais atestar o surgimento do inconsciente, o termo “testemunha” dá conta da função da presença do analista como como testemunha do que se perde, como presença articulada a uma perda[5].
Não me parece irrelevante que no texto da Proposição[6], o campo de concentração apareça como um dos pontos de fuga em perspectiva do nó que ata a psicanálise em extensão à psicanálise em intensão. O campo e concentração é tomado no texto da proposição sobre o psicanalista da Escola como facticidade real, e ao lado das consequências do remanejamento dos grupos sociais pela ciência, gatilho para uma ampliação cada vez mais dura dos processos de segregação. É o que vemos, hoje. Trazer o campo de concentração como facticidade real e o nazismo como um reagente precursor[7], indica uma fratura, um antes e um depois na história do século vinte. Uma fratura também naquilo que concerne à sociedade psicanalítica, textualmente explicitado em ambas as versões da Proposição, e de modo contundente na primeira versão[8]. O que não nos deixa desviar da questão sobre quais seriam os três pontos de fuga que atariam a psicanálise em extensão à psicanálise em intensão, hoje. Questão atinente tanto ao destino das instituições fundadas sobre o modelo do exército e da Igreja, quanto à presença do analista nos campos clínico e político.
II. O analista, a Escola e a época
Alguns significantes me chamam a atenção em “Ponto de Basta”[9], aula de 24 de junho de 2017 proferida por Jacques-Alain Miller no contexto da penúltima eleição presidencial, e da ascensão da extrema direita na França: se engajar, escolher, discernir, perceber, saborear, examinar, provar. O que é do registro da escolha é também do registro do gosto. A heresia, no que concerne ao campo da escolha, ancora-se profundamente na língua, diria até mesmo que sobretudo na língua, em sua singularidade desconcertante. As escolhas não devem ser pensadas unicamente no campo das idealidades, elas estão enraizadas no corpo, no gozo do corpo, no sinthoma, por isso o analista não é um indiferente. O desejo do analista não é um desejo de nada. É um desejo pautado em uma ética, inclui uma política, na própria posição a que faz jus.
Vejamos o comentário de Lacan destacado por Miller à propósito de Freud, em “A direção do tratamento” – “Quem, tão intrepidamente quanto esse clinico apegado ao terra-a-terra do sofrimento, interrogou a vida em seu sentido, e não para dizer que ela não o tem – maneira cômoda de lavar as mãos, mas para dizer que tem apenas um, onde o desejo é carregado pela morte”[10] (uma resposta heideggeriana de Lacan). Nenhum niilismo aqui. Miller se declara impactado pela expressão “clinico apegado ao terra-a-terra do sofrimento”, a partir da qual retoma os tempos da existência de uma Escola, com as suas escanções e momentos cruciais, mas sobretudo sobre a distinção entre a Escola como sujeito e a Escola como instituição, tema medular em Teoria de Turim[11].
A instituição não é o mesmo que a Escola-sujeito. É preciso “estar em condições de produzir um ato como Escola-sujeito”[12]. O ponto nodal aqui é o ato. Não há Escola-sujeito sem ato. Ela somente tem existência como um efeito de um ato.
No mesmo texto já citado por Miller, Lacan profere – “que antes renuncie a isso quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”. A época é dotada de subjetividade, a subjetividade de uma época é o que a anima, a sua mentalidade, o que confere a ela um horizonte e um limite que, seguindo Miller “coage os pensamentos” ao mesmo tempo em que “designa a sua coerência”. Não se refere aqui aos seus atributos, a isso que é palpável e se pode nomear ou classificar no plano individual. Não se refere ao que seriam os atributos “individuais” de uma época, deslocando inclusive o binômio “individual – coletivo”: A subjetividade é transindividual. O que Lacan quis dizer com isso, em seu Relatório de Roma? Ele se refere ao “discurso concreto” como sendo o campo da realidade transindividual do sujeito. O ponto nodal aqui é o discurso como categoria que extrapola o binômio individual – coletivo. O transindividual parece operar uma torção ou uma dobra, ou constituir-se como litoral. Caberá pensar esse conceito a partir das proposições topológicas de Lacan, que nos reenviam ao plano da extimidade.
O exemplo memorável trazido por Miller nesse texto é o dos três prisioneiros tomados como indivíduos ligados, e mesmo enganchados uns aos outros de modo a formar uma subjetividade, tanto no sentido de horizonte, quanto de limite, na medida em que a subjetividade é prisioneira da época, de seu Zeitgeist. Lacan o articula à dialética em sua acepção hegeliana, o que se esclarece na posição do analista como eixo de tantas vidas na medida em que está advertido, que sabe da dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico. Também uma Escola, na qual sujeitos estão engajados, tem um caráter transindividual, e me parece, tomando a sério e esse ponto, que possamos estender tais proposições aos seus dispositivos, sobretudo, ao dispositivo do Passe. O passe de uma Escola não é o Passe-Instituição. Só há passe em ato, e no horizonte de uma Escola-sujeito.
III. Se “o coletivo é o sujeito do individual”, em que consiste um cálculo coletivo?
O que leva Lacan a afirmar que o grupo e a massa não seriam de um registo diferente daquele do sujeito? E ademais, já na última nota de rodapé de “O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada”, remetendo o leitor ao primeiro parágrafo de Psicologia das massas e análise do eu, o que o leva a auferir que “o coletivo não é nada senão o sujeito do individual”? [13]. Lacan faz a ressalva de que a objetivação temporal presente no sofisma, ponto nodal do que se produz como certeza antecipada, é mais difícil de conceber à medida que a coletividade aumenta, “parecendo criar obstáculo a uma lógica coletiva com que se possa complementar a lógica clássica”[14].
Note-se que a questão nos reenvia às premissas da lógica clássica, das premissas à conclusão como valor de verdade, como bases sobre as quais Lacan demonstra, nesse texto, a asserção subjetiva antecipatória: “1º) Um homem sabe o que não é um homem; 2º) Os homens se reconhecem entre si sendo homens; 3º) Eu afirmo ser homem, por medo de ser convencido pelos homens de não ser homem. Movimento que fornece a forma lógica de toda assimilação “humana”, precisamente na medida em que ela se coloca como assimiladora de uma barbárie…”[15]
Ana Lucia Lutterbach[16] ressalta que nesse texto de 1945, Lacan se refere à subjetividade de sua época como movimento simbólico, uma referência ao inconsciente estruturado como linguagem e ao desejo como desejo do Outro. Outro que traz em si a história e os traços fundamentais da civilização. Mais tarde, a partir do Seminário 17 e até o fim de seu ensino, Lacan se refere não só à dialética do desejo, à história, como também às implicações do gozo no laço social. Tema amplamente desenvolvido por Éric Lautent em O avesso da biopolítica, a partir das “lógicas do acontecimento de corpo”[17] e das suas formulações sobre “O falasser político”[18].
Como pensar essa assertiva nesses dois momentos do ensino de Lacan? O que os aproxima e o que os diferencia, no que concerne às torções entre o coletivo, o individual, o subjetivo e o transindividual? Me parece muitíssimo fecundo tomar tais indicações como diretrizes para uma leitura dos laços entre a clínica, a política e o campo social, nesse tempo que é o nosso.
Nessa perspectiva, a das implicações do gozo no laço social, trago ao debate uma passagem de Lacan no Seminário 16, de um Outro ao outro, em que as vicissitudes do laço entre o Outro e o gozo são tomados não na perspectiva da fantasia, mas naquela do traumatismo em sua vertente real, o que, me parece prevalecer hoje, em detrimento do trauma em suas coordenadas simbólicas. Tal perspectiva se articula com a facticidade real proposta por Lacan na Proposição de 1967, indicando que a lógica do campo de concentração, onde quer que ela esteja, desembocará no que Lacan aponta neste seminário: em situações-limite em que gozo e corpo se separam[19].
IV. Traumatismo e lalingua: assuntos de política
A linguagem, cujas leis podemos estudar, veicula em sua estrutura o laço social, ao passo que com lalingua temos uma camada subterrânea passando por debaixo da norma social, e a dimensão fônica da linguagem, fonte dos mal entendidos infantis, das significações investidas de libido. Se ao nível da linguagem encontramos o significante articulado, no âmbito de lalingua temos o S1, o significante sozinho, imantado de substância gozante[20].
Nos campos de extermínio a incomunicabilidade levava rapidamente à morte. O murmúrio, o balbucio, o urro, rompiam a densa barreira do mutismo, tal como Primo Levi narrou em A trégua – nos dias que se seguiram à chegada do exército russo no Campo de Buna-Monowitz – a propósito de Hurbinek, nome atribuído a uma criança provavelmente nascida no Lager, a partir dos sons inarticulados que emitia. Não sabia falar. Já os seus olhos dardejavam, terrivelmente vivos, cheios de vontade de romper a tumba do mutismo [21]. A necessidade da palavra… comprimia seu olhar com uma urgência explosiva: era ao mesmo tempo um olhar selvagem e humano…. carregado de força e de tormento[22]. Matisklo, que se aproximava a uma palavra articulada, foi o único rudimento de palavra pronunciado ao longo de sua breve existência naqueles dias de convivência entre os prisioneiros recém liberados nas enfermarias do Lager.
No Seminário 16, de um Outro ao outro, Lacan postula que em situações-limite gozo e corpo se separam. Jacques-Alain Miller enfatiza que é essa separação entre o gozo e o corpo que faz com que o gozo seja, antes, do Outro. Ele diz: sabemos dos traumatismos devidos ao fato de um Outro ter forçado ou imposto seu gozo ao nosso corpo. Esse regime de violação é certamente o que há de mais traumático. Somos forçados aqui, a colocar entre aspas a palavra fantasia e conceder crédito a esse traumatismo, e em sua estrutura, separar o corpo e o gozo, quando é o gozo do Outro que se impõe. O corpo se esvazia de gozo. Num caso temos as vicissitudes do trauma, no outro o regime de violação, o aniquilamento, as situações em que gozo e corpo se separam. Ao que tudo indica, Matisklo de algum modo reconectou, naquele breve batimento de uma vida, gozo e corpo, como testemunharam os olhos de Hurbinek.
V. Racismo, segregações
Ao ser interrogado (em “Televisão”) de onde viria sua segurança em preconizar uma nova escalada do racismo justo naquele momento (estamos em 1973) em que imperava uma atmosfera de otimismo diante da promessa de integração das nações por meio dos mercados comuns – Lacan dirá: “No desatino do gozo – só há o Outro para situá-lo – mas na medida em que estamos separados dele”[23].
Na esteira das questões atinentes à segregação, vale interrogar: 1) Se a segregação horizontal e “ramificada”[24], na escala e magnitude que vemos hoje, seria uma derivação da “segregação estrutural”[25], aquela inerente à constituição o sujeito e à ordem simbólica, ou responderia a uma lógica diferente; 2) Se a ordem simbólica se funda ao deixar algo fora dela, a ser simbolizado no interior, como ausente – quais seriam as consequências para o laço social, da precarização desta operação, ou seja, da generalização, em larga escala na civilização, dos impasses quanto a efetivação desta operação? 3) O que isto nos esclarece sobre a chamada ‘cultura do cancelamento’ e a generalização do ódio que lhe é tributária?
Chamam a atenção, sobretudo na última década, as proporções tomadas pelos linchamentos virtuais e a manipulação da opinião pública pelas as fake news, o que no Brasil vem incitando a truculência e dogmatismo crescentes no âmbito da cena política. Tais fenômenos, não estão desarticulados, e mais que isso, parecem manifestações contemporâneas daquilo que Lacan aponta sob a égide de uma segregação ramificada, reforçada, que se sobrepõe em todos os graus, não fazendo senão multiplicar barreiras. Talvez como um dos efeitos do que apontava já em 1967, mas desta vez sob as injunções da biopolítica, da tecnologia e consumo de massas, cujas incidências vão além da queda do falocentrismo. O mundo regido pela ordem simbólica, em que cada coisa estava em seu lugar, aferrolhada pelo patriarcado, assegurada pelas leis enganchadas ao Nome-do-Pai, ponto de partida de Lacan, caminha, no segundo tempo de seu ensino, rumo a uma direção oposta: aquela do desmantelamento metódico, constante e feroz da pseudo harmonia da ordem simbólica.
Os aparelhos tecnológicos (celulares, tablets e similares) parecem funcionar, hoje, como extensões do próprio corpo, ao ponto de se acessar por meio de um único e mesmo dispositivo crushes, nudes, o relógio, as redes socias, e… o analista.
Com a prevalência dos imperativos do consumo, o ideal democrático parece se deslocar, pois já não se funda na igualdade como ideal ou princípio; mas no direito ao gozo como finalidade que se quer garantir. Ou seja, é em nome do direito ao gozo que muitas vezes se apela à igualdade. Assim, em nome do gozo, as democracias liberais de massas consumidoras incorrem no risco de engendrar, paradoxalmente, uma espécie de autoritarismo às avessas: a soberania popular cedendo seu lugar à soberania do consumidor, o que desemboca não num consentimento à multiplicidade dos gozos, mas no rechaço à diferença.
É nesse contexto, que, para conter ou corrigir os excessos da pulsão, incorre-se nos dogmatismos, ou apela-se a um deus restaurador da ordem e/ou aos programas e ações políticas de vocação totalitária. Vide o atual avanço dos nacionalismos, não mais apoiados em ideias ou em utopias, mas em slogans legalistas e messiânicos. Tendo-se chegado a este ponto, não seria demais afirmar que o declínio das sociedades patriarcais em sociedades de massas consumidoras tenha uma incidência sobre a crise das democracias representativas.
VI. Extimidade
Desde a primeira vez que li as duas versões da Proposição, me perguntava o que uma menção aos campos de concentração nazistas estaria fazendo em um texto que pretendia interrogar a formação do analista e as bases das instituições analíticas.
Me ocorria que tais menções se justificariam por certa porosidade da instituição analítica às questões e impasses de seu tempo e, mais do que isso, ao modo de Lacan de pensar topologicamente a instituição analítica: o que pareceria à primeira vista localizar-se numa relação de exterioridade ao campo da prática estritamente analítica, encontrar-se-ia, ao mesmo tempo, em seu mais “íntimo”, em seu “interior”.
É importante observar – e nisso reside toda a sutileza da questão – que o problema não parece estar, propriamente, numa relação de causalidade direta entre a segregação e a violência, ou entre a segregação e o mal radical dos qual nos fala Hannah Arendt, por exemplo. A segregação é consubstancial à operação simbólica, na medida em que segrega-se o que resiste a integrar a própria rede de referências e significações; segrega-se o gozo outro, deslocado, inassimilável, mas segrega-se, sobretudo, a partir de um não saber fundamental sobre o gozo. O gozo maligno em jogo no discurso racista se nutre do desconhecimento da lógica que o constitui: seu crime fundador não seria tanto o assassinato do Pai, “mas a vontade de aniquilar aquele que encarna o gozo que eu rejeito” [26], argumenta Laurent, em Racismo 2.0.
A questão central para Lacan no texto de 1967 sobre a formação do psicanalista, é que tais formas de universalização, recaindo numa espécie de homogeneização, acabariam por solapar o que estaria em jogo na segregação como fenômeno de estrutura, camuflando a lógica sobre a qual o fenômeno de estrutura se funda, e com a qual só se tem a chance de operar se não estiver totalmente subsumida ou encoberta pelo discurso do Mestre, por bandeiras ideológicas, por uma rejeição absoluta, ou por soluções homogeneizantes. Ademais, não é incomum atribuir-se como causa da segregação de estrutura, a suposta vontade caprichosa de um Outro mau, de um Deus maligno e obscuro. Foi precisamente no horizonte dessas reflexões que Lacan evocou, nos anos sessenta, e mais precisamente, no Seminário 11, o advento do nazismo[27]. O que significa o sacrifício sobre o qual Lacan discorre? O que corre nas entrelinhas do ato sacrificial, e por que ele seria tomado de fascínio? Lacan esclarece que, no objeto de nossos desejos, tentamos encontrar o testemunho da presença do desejo desse Outro, que ele chama de “Deus obscuro”. Esse seria o ponto cego, medusante e pleno de fascínio, que poderá cercar a dimensão do sacrifício, em nome e por causa do Outro. É em relação a este ponto cego e paralisante que a ignorância, a indiferença, ou o desvio do olhar são as respostas humanas, demasiadamente humanas.
Para o psicanalista, Lacan propõe “a abertura de olhos” que uma análise poderá permitir, diante do encontro de uma posição-limite, consubstancial às intrincadas relações entre o desejo, o objeto, o gozo e o Outro. Cabendo aqui uma ressalva: a segregação inerente à operação simbólica não é equivalente e nem mesmo similar à segregação que se descortina e é colocada em marcha com o advento do nazismo e da máquina concentracionária, fundadas na vontade arbitrária e no gozo mortífero de aniquilar o semelhante. Da segregação à serviço do aniquilamento. Quando o que vigora é a lógica concentracionária, indivíduos e populações inteiras, às expensas das ações, da vontade, ou do desejo de cada um em sua singularidade, são destituídos de sua condição de cidadãos e uma vez reduzidos brutalmente à condição de dejetos, ver-se-ão capturados e lançados numa situação aniquiladora, sem saída, monstruosa. Aqui não estamos diante dos fenômenos de segregação, mas do aniquilamento. De modo que não seria pertinente, nesse contexto, confundir esses diferentes registros da segregação, imputando a culpa da segregação atroz operada por uma política de extermínio, a cada um, individualmente. Ao invés de soluções simplistas ou das malfadadas inversões da culpa, mais vale tentar cernir as consequências das diferentes formas e manifestações da segregação, e entender como e porque elas conduziriam inevitavelmente a uma obstrução dos usos da palavra, a uma inércia e desconhecimento cada vez mais amplos daquilo que as sustenta e mantém, advertidos que nem a boa vontade, nem a simples denúncia, seriam capazes de substituí-las ou de minimizar os seus estragos.
VII. Democracia
O que está acontecendo com as democracias, hoje?[28] Que tipo de mutações estão em curso? É notório que os pilares da democracia, tal como praticada no século vinte, encontram-se fortemente abalados. Observa-se pelos quatro cantos do planeta a ascensão de representantes da extrema direita se elegerem democraticamente. Há certamente movimentos de cunho neofascista, que se nutrem das fixações residuais e não ultrapassadas dos grandes conflitos mundiais do século XX. Mas diferentemente dos movimentos fascistas do século passado, há nas manifestações obscurantistas deste início de século mais diferenças que pontos em comum, dificultando a sua leitura e interpretação, o que levou o cientista político Enzo Traverso a nomear esse conjunto de movimentos de “pós-fascistas”[29]: seu conteúdo ideológico é flutuante, instável e frequentemente contraditório, podendo abarcar ideias e crenças francamente antinômicos. Em lugar das diferenças e tensionamentos ideológicos, ganham terreno polarizações de todos os tipos, intensificando o “nós contra eles”, a partir da identidade personificada por um líder autoritário. No caso do Brasil, o incremento dos apelos reacionários ao modo de uma onda ultraconservadora se alastra no vácuo de uma crise da política representativa e de uma perda de confiança nas instituições.
Sabemos que as sociedades democráticas não são monolíticas e que é preciso manter certas condições ‘de temperatura e pressão’ para que não coloquemos a democracia em risco. Isso não quer dizer que não existam brechas e paradoxos. Um desses paradoxos, formulado por Claude Lefort[30], reside no fato de que o lugar simbolicamente vazio do poder não poderá ser apropriado ou encarnado por alguém. Sob esse paradoxo vive e respira o estado democrático de direito, que estará em perigo todas as vezes que esse lugar vazio se veja obturado ou confundido com quem detêm a autoridade. Foi o caso de Hitler, Mussolini e Stalin, e de tantos outros ditadores que floresceram no século XX. Isso poderá acontecer também quando se denegam as divisões internas aos poderes, resultando em uma indiferenciação das instâncias que regem politicamente a sociedade. Ou ainda, em situações em que o poder deixa de se constituir como um lugar simbolicamente vazio em nome da qual se governa, para se apresentar como realmente vazio, situação em que os governantes passam a ser percebidos como elementos de facções a serviço de um grupo de interesses, vendo sua legitimidade sucumbir em todas as extensões do tecido social, até que, no limite, já não se sustente uma sociedade propriamente civil. Antes de sua total corrosão, a sociedade se vê polarizada entre a defesa de um estado permissivo e rendido a grupos de interesse e o brado por um estado consubstancial à sociedade, que falando em seu nome venha a encarnar o corpo social de forma homogênea e sem brechas. Com essa polarização, nutre-se o ódio à diferença, motor da intolerância e da segregação. O laço social se fragiliza, chegando, às vezes, à ruptura.
VIII. A Escola como coletivo
Em “Teoria de Turim”[31], Miller enuncia o paradoxo da Escola nos seguintes termos: como entender o fato de que no momento que Lacan institui uma formação coletiva, suas primeiras palavras colocam em primeiro plano a solidão subjetiva. Essa formação coletiva “não pretende fazer desaparecer a solidão subjetiva, mas que pelo contrário se funda nela, a manifesta, e a revela”. Advertido de que a interpretação tem sempre um efeito desagregador, e sendo cada um separado do significante mestre, remetido à sua solidão, como essa comunidade se sustentaria? A proposição “A Escola é sujeito” e seu desdobramento, “A Escola é sujeito suposto saber”, aparecem como uma espécie de solução para o paradoxo entre a solidão do analista e a Escola como conjunto “antitotalitário” e inconsistente advindo dessa soma de solidões: “constituir esta comunidade é fazer da própria Escola um sujeito barrado”. A Escola precisa de estatutos, mas, sobretudo, de interpretações dela mesma como sujeito. Trata-se de que a determinação significante da Escola, suas organizações simbólicas complexas, suas publicações, tenham como efeito instituir a Escola como sujeito suposto saber”.
Em “Questão de Escola: proposta sobre a garantia” (2017), o problema se recoloca tendo como horizonte as mutações do Discurso do Mestre. A questão já não se enuncia unicamente em termos de uma “Escola sujeito”, como na “Teoria de Turim”. Miller ressalta a sua condição de “ser ambíguo”, uma “Escola Morcego”. O que está em questão é o embuste de pretender que o discurso analítico se funde como um discurso que não tomaria seus efeitos a partir do semblante. Donde o paradoxo: não apenas o do laço entre a solidão do analista e a Escola, mas aquele do discurso analítico como um embuste que toca o real: o discurso analítico não só dissolve os semblantes dos outros discursos, como também denuncia o próprio. O resultado dessa operação, ainda que tenha efeito de semblante, é desnudar o real. Como consequência, seu suporte de semblante, que é o sujeito suposto saber, se autodestrói. Se na “Teoria de Turim”, a Escola como sujeito suposto saber aparece como uma solução, em “Proposta sobre a garantia”[32] o sujeito suposto saber, como suporte de semblante do discurso analítico se autodestrói. Estaríamos diante de uma nova mutação, dessa vez, em relação aos destinos do sujeito suposto saber como suporte de semblante do discurso analítico? Convido-lhes a elaborar e extrair as consequências desta Proposta sobre a garantia, de Jacques-Alain Miller, a fim de fazermos uma releitura dos pontos de fuga da Proposição sobre o psicanalista da Escola, hoje, passados cinquenta e cinco anos de sua proclamação.
Lucíola de Freitas Macêdo
[1] Texto apresentado no dia 8/8/22 em atividade em conexão com o XXIV EBCF organizada pelo Conselho e pela Diretoria da Seção Rio.
[2] Levi, P. A assimetria e a vida. São Paulo: Ed. UNESP, 2016, p.56
[3] Mesnard, P. Primo Levi: uma vita per immagini. Venecia, Marsilio Editori, 2008, p.11, 102 e 144.
[4] Alberti, C. Há apenas isso: o laço social. Curinga, n.47, 2019, p.19.
[5] Em “Presença do psicanalista com testemunha da perda”. Boletim Punctum Extra. http://encontrobrasileiroebp2022.com.br/presenca-do-psicanalista-como-testemunha-da-perda/
[6] Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de 1967. Outros Escritos, Rio de Janeiro, JZE, p.261-263.
[7] Lacan, J. Anexos. Outros Escritos, Rio de Janeiro, JZE, p.583.
[8] Lacan, J. Anexos. Outros Escritos, Rio de Janeiro, JZE, p. 583-584.
[9] Miller, J.-A. Ponto de basta. Opção Lacaniana, n.79, julho 2018, p.23-38.
[10] Lacan apud Miller. Ponto de basta, p.31.
[11] Miller, J.-A. Teoria de Turim. Opção Lacaniana on-line n.21, Nov.2016. Disponível em: http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_21/teoria_de_turim.pdf.
[12] Miller, J.-A. Ponto de basta, p.32.
[13] Lacan, J. O tempo lógico. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.213.
[14] Idem.
[15] Idem.
[16] Cf. em https://jornadasebprioicprj.com.br/2022/local/.
[17] Laurent, É. O avesso na biopolítica. RJ, Contra Capa, 2016, p.61-64.
[18] Idem, p.201-219.
[19] Lacan, J. O seminário, livro 16: de um Outro ao outro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p.266.
[20] Miller, J.-A. A psicose ordinária, a convenção de Antibes, p. 286.
[21] Levi, P. A trégua. São Paulo: Cia das Letras, 2010, p.19.
[22] Idem, P.18-19.
[23] Lacan, J. Televisão. Outros Escritos, Rio de Janeiro, JZE, p.533.
[24] Lacan, J. Nota sobre o Pai. In: Opção lacaniana. São Paulo: Edições Eolia, n.71, dezembro 2013, p.7.
[25] Bassols, M. O bárbaro. Transtornos de linguagem e segregação. In. Opção lacaniana online nova série, ano 9, março/julho 2018, n. 25 e 26.
[26] LAURENT, Eric. Le racisme 2.0. In: Lacan Quotidien, n.371, 26 de janeiro de 2014. Disponível em: http://www.lacanquotidien.fr/blog/wp-content/uploads/2014/01/LQ-371.pdf.
[27] LACAN, Jacques (1964). O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1993, p.259.
[28] Para uma análise das questões atinentes a este tema no contexto do Brasil atual, recomendo: Bignotto,N., Starling, H. & Lago, M. Linguagem da destruição, a democracia brasileira em crise. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
[29] Traverso, E. les nouveaux visages du fascisme. Paris: Textuel, 2107, p.13.
[30] Lefort, C. A invenção democrática: os limites da dominação totalitária. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.75-77.
[31] Miller, J.-A. Teoria de Turim. Opção Lacaniana on-line n.21, nov.2016.
[32] Miller, J.-A. Questão de Escola: proposta sobre a garantia. Opção lacaniana nova série, ano 8, n.23, julho 2017.
Editorial – PUNCTUM 4
Abrimos essa edição do Punctum com o vídeo de Bernardino Horne que é uma aula primorosa sobre a presença do analista sob a ótica do último ensino de Lacan. Ele explora em detalhes as consequências da “coisa incrível que é haver o Um” com os mistérios que estão implicados nessa mudança de perspectiva: o mistério do corpo falante, da união do significante com o corpo biológico, a existência de um gozo sem significante, para colocar em destaque o plano da presença do analista na relação com o gozo opaco do UM.
A série dos textos inéditos começa com uma preciosidade que é o texto de Flávia Cêra “Em estado de emergência”. Ela faz uma homenagem a Clarice Lispector, tomando emprestado o título do seu livro “Para não esquecer” que é usado como um fio que atravessa o texto de ponta a ponta abrindo brechas aqui e ali para falar da memória, do tempo presente, do que repete, do que insiste, do acontecimento, tendo como pano de fundo o estado de emergência tomado como método de uma escrita.
O momento do Encontro se aproxima e os trabalhos avançam a todo vapor. Os textos de orientação que seguem nesse Punctum testemunham a potência do trabalho em andamento. O texto de Lucíola Macêdo, que recebeu como título: “O analista, o real e a época – notas em progresso” foi extraído da sua fala em uma atividade na Seção Rio em 8 de agosto, que articulou o tema do Encontro ao das próximas Jornadas da Seção Rio sobre Lógicas Coletivas nos tempos que correm e vai muito além de algumas notas. É um texto de fôlego que percorre um amplo circuito, atravessando questões da maior urgência, sem recuar diante dos impasses e tensionamentos que fazem parte da problemática da época: racismo, segregação, coletivos, democracia, “assuntos de política” e questões de Escola. E conclui com uma pergunta que serve de provocação para nos relançar ao trabalho.
Marcus André Vieira, em “Os três (mais um) planos da presença do analista”, texto de orientação da maior relevância, desdobra e explora a fundo os diferentes níveis da presença do analista: o da transferência – seja ela amorosa ou negativa – o da interpretação, o “a mais” que se introduz entre um dizer e um dito, e mais ainda…. Vale conferir em uma leitura atenta!
Na rubrica Bibliografia e Ressonâncias trazemos as excelentes leituras que Paola Salinas e Rodrigo Lyra fizeram a partir dos trechos selecionados do ensino de Lacan sobre o sintoma como acontecimento de corpo e a dimensão política implicada aí, sobre os desafios atuais com a experiência do inconsciente, entre outros pontos colocados em destaque por eles. Leitura necessária.
Lembramos também que a cada edição do Punctum novos textos são incluídos na aba Textos de Orientação do site. “Presença do psicanalista como testemunha da perda” de Clotilde Leguil; “O impossível e o laço, o analista e a época”, relatório do eixo 3 apresentado por Margarida Assad; “Tempo, Corte e ato: O acontecimento analista” relatório do cartel responsável pelo eixo 2 apresentado por Maria do Rosário Collier do Rêgo Barrros e dois textos de Romildo do Rêgo Barros: “O Sentido e os seus dejetos” que foi lançado no último Boletim e “Sobre grupos” texto de 2009, que foi citado por Margarida Assad no relatório do eixo 3.
Boa leitura a todos!
Andréa Reis Santos
O analista e o real de sua época
Gostaria de agradecer a Margarida Assad e aos colegas do cartel pelo relatório que nos foi apresentado, fruto de um trabalho em torno de nosso terceiro eixo de investigação: “O impossível e o laço, o analista e a época”. Um trabalho que reafirma o modo vivo e peculiar de presença do analista no domínio do social, contrariando uma certa tradição originária do marxismo, que costumava identificar a psicanálise a uma prática destinada a tratar das questões de alcova ligadas ao individualismo burguês.
Lacan chega a afirmar, de modo surpreendente, exatamente o contrário: “Há apenas isso: o liame social”[1], o qual não prescinde da categoria transcendental do Outro, da forma transindividual da estrutura, que são o pano de fundo para as múltiplas encarnações contingentes do real nas diversas configurações temporais que são “as épocas”.
Qual é o impossível de nossa época? Ou como ela o veicula?
Cristiane Alberti[2] localiza o século XXI como o século do desencadeamento da pulsão de morte. Ou seja, a pulsão de morte não retorna mais como resíduo da operação de recalque como denunciou Freud em “O mal estar na civilização”, mas ela se dissemina, se espalha, se alastra a céu aberto por todos os cantos, exatamente por que o semblante paterno se tornou em larga medida inoperante, incapaz de localizá-la, transformá-la ou detê-la.
Como o analista se faz presente nesse contexto? Como promover o laço a partir dessa dissolução pulsional a não ser pela via do sinthoma como invenção singular de cada um? Como transmitir a lógica do saber fazer com o sinthoma (que é também a lógica do não-todo) num mundo em que prevalece o empuxo à avaliação e em que o sintoma é, em larga medida, desconsiderado? Como fazer crer que o impossível de suportar é sintoma de algo?
Achei muito interessante quando Margarida coloca a questão sobre “se estamos abandonando a fala, uma vez que não encontramos mais um ponto de endereçamento”. Creio que se abster da fala não é produzir necessariamente o silêncio, mas é perder-se no monólogo dos uns sozinhos exatamente quando não se pode contar com o esteio do sinthoma. Miller formalizou em Comandatuba[3] a fantasia, segundo a qual, haveria uma convergência entre a civilização hipermoderna e o discurso do analista, pois em ambos encontramos o objeto a no comando, em detrimento dos ideais. Uma análise desemboca naquilo que os nossos tempos, desbussolados, evidenciam: a derrocada da ordem patriarcal e o que se depreende daí como um monólogo (a expressão da fala que declina do apelo ao sentido, uma vez que não tem mais essa referência ou esse ponto de endereçamento). Do lado da civilização os uns sozinhos estão cada vez mais condenados a ter seu corpo separado da palavra, a permanecerem desenlaçados pelos discursos da ciência e do capitalismo: avaliado, medicado, adestrado (objetificado). Já na análise eles são convidados a se enlaçar a partir desse ponto de falha que é o impossível da relação sexual. Eles continuam a falar sozinhos, mas não sem seu corpo (seu sintoma) que implica um significante novo, aquele que produz um “efeito de sentido real”.
O relatório mostrou muito bem como a segregação é constitutiva da subjetividade em geral e está no âmago do laço social, uma vez que a civilização emana da pulsão segregativa desde Freud. Mas qual o estatuto da segregação nos dias de hoje?
Se ela está na raiz da constituição do falasser, uma vez que “só temos o Outro para situar o desatino de um gozo”[4] que é o nosso – um gozo por definição deslocado e estrangeiro -, a psicanálise não operaria exatamente no sentido de desfazer esse movimento imaginário que localiza o gozo mau no exterior? Todo gozo é por princípio segregado, apartado do sujeito por uma renúncia primordial e como tal incide como êxtimo, embora esse movimento dialético esteja, no mais das vezes, abolido em nossa época. Uma análise serviria para confrontar cada um com sua própria exclusão interna, denotada por essa infamiliaridade do gozo, por meio da interpretação capaz de invalidar essa tendência em rebaixá-lo no Outro enquanto subdesenvolvido.
Diante da dissolução da ordem patriarcal assistimos a tentativas selvagens de restauração do falocentrismo, manifestações de uma ordem de ferro sustentada por uma vontade superegoica de gozo que reforçam essa corrente imaginária – a tendência a localizar todo o mal fora de si, o que gera novos autoritarismos, inclusive entre algumas vertentes de movimentos identitários que parecem não ter qualquer abertura para essa dimensão de um significante vazio que o cartel soube trabalhar de modo tão instigante.
A abertura a um significante vazio poderia ser uma maneira analítica de resistir às urgências contemporâneas em relação ao consumo de identidades prèt a porter como, ao que parece, vêm se reduzindo a oferta do grande cardápio das identidades Trans? Observamos em alguns casos, sujeitos ainda muito jovens que se servem de designações do universo LGBTQIA + de um modo muito próprio. Eles nos mostram que estão verdadeiramente em trânsito e que encontram sua dignidade na escolha de um nome social ou a partir de uma defesa que lança mão do domínio do Neutro por precisarem, ao menos, durante algum tempo, não se filiarem a uma posição feminina ou masculina.
Não seria interessante recuperarmos a dimensão da espera para não converter expressões que em princípio trariam uma flexibilidade quanto ao gozo (Pessoa trans/Não binário) em palavras de ordem que adquirem o estatuto de identidades compulsórias a serviço da técnica e do discurso da ciência?
Dito isso, eu terminaria citando a conclusão de Marcus André em seu texto “Dias de branco” em que ele propõe situar o lugar do analista como “parteiro de identidades abertas mais do que um herói da desidentificação”[5].
Laura Rubião (EBP/AMP)
[1]N. E.: Comentário sobre o relatório apresentado na 3ª Preparatória para o XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, em 01.09.2022. Cartel sobre o tema do Eixo 3, composto por: Anamáris Pinto, Ana Tereza Groisman, Louise Lhullier, Lucíola Macêdo, Margarida M. Elia Assad (Mais-Um e relatora), Pablo Sauce, Romildo do Rêgo Barros, Rômulo Ferreira da Silva e Ruskaya Maia.
Lacan, J. (1972-73) O Seminário, livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1982, p. 60.
[2] Alberti, C. “Há apenas isso: o laço social”. Revista Curinga. Belo Horizonte: Escola Brasileira de Psicanálise, Seção Minas Gerais, n. 47, Jun/Jul 2019, p. 23.
[3] Miller, J.-A. “Uma fantasia”. Disponível em: http://2012.congresoamp.com/pt/template.php?file=Textos/Conferencia-de-Jacques-Alain-Miller-en-Comandatuba.html
[4] Lacan, J. “Televisão”. In: Outros escritos, p. 533.
[5] Vieira, M. A. “Meus dias de branco”. Disponível em: https://www.ebp.org.br/correio_express/2022/04/18/meus-dias-de-branco1/
O impossível e o laço, o analista e a época
“O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu”[1].
“Violento mesmo é o amor, o resto é só cara de mau”[2].
1. Épocas
Há Épocas! Assim, iniciamos o argumento para este eixo. Época é, para o discurso psicanalítico, um significante que traz diversas implicações. Ele nos traz o sentido de uma temporalidade que, apesar de trazer o tempo como contingente, aponta também um sentido político, por remeter a um contexto, a um fragmento da história. Assim, Lacan nos fala de subjetividade de uma Época, retomada por Miller no texto “Ponto de Basta”[3]. Ele retoma esse significante para destacar que não se salta por cima de sua Época. A Época é um limite, algo que determina uma forma de se colocar no mundo.
Lacan, no “Relatório de Roma”[4], faz uma outra importante referência ao tempo, ele nos diz que a subjetividade é transindividual: “seu campo (o da Psicanálise) é o do discurso concreto, como campo da realidade transindividual do sujeito”[5]. Desse modo, o campo com o qual trabalhamos em Psicanálise nos mantém presos uns aos outros, engajados em uma trama social da qual não é possível nos livrar.
No âmbito da Psicanálise, o coletivo não é uma soma de indivíduos. Cabe lembrar aqui a conhecida e enigmática frase de Lacan: O coletivo não é mais do que o sujeito do individual. Uma frase que ressoa, ressoa dentro de nós, sem que seja fácil alcançar onde ela nos leva.
Para trabalhar o tema do eixo 3 partimos da seguinte questão: Há Épocas! Cada Época teria seu próprio ponto de impossível? Ou seja, em qual dialética estamos presos na contemporaneidade? Nesses tempos atuais, diante do impossível da ordem simbólica fazer frente à desordem de um gozo, o que concerne à prática de um analista?
- Transindividualidade: o que quer dizer para Psicanálise?
Já é lugar comum em nossa comunidade falarmos da falência do Nome-do-Pai e da consequente queda do viril. Certamente, é o que define a subjetividade de nossa Época. Quando o Pai se evapora, a quem dirigir o amódio pela falha fundamental de sermos seres falantes? Falamos para quem? Sabemos que hoje pouco se fala, sendo a imagem muito mais o veículo utilizado nos laços sociais. Será que abandonaremos a fala, pois, afinal, não temos mais a quem endereçá-la?
Freud cria a psicanálise se fazendo de semblante do Outro. Ao oferecer sua escuta à histérica, o que ele primeiro descobre é o Pai. Mas sua sagacidade analítica logo o fez se deslocar do pai para sexualidade, percebendo que a raiz do sofrimento histérico não partia de Um pai perverso, mas residia na insatisfação do desejo, imputando a ele sua articulação ao inconsciente. Lacan, diz-nos que “…a imputação do Inconsciente é um fato de incrível caridade de Freud”. A caridade, por princípio, é um ato de amor, um ato de amor aos desprotegidos. O inconsciente abre, ao sujeito que sofre, uma possibilidade de dar um destino a sua incompletude: um ato de amor… Amor que, em nossa prática, recebeu o nome de transferência. Estamos no terreno da ética e aí também reside a transindividualidade que nos aprisiona.
Para esses dois gigantes da psicanálise, o objeto de seu estudo nunca foi o indivíduo e sim um aparelho, um sistema, o que permite incluir aí o social. O sujeito de que se trata não é o indivíduo, mas uma estrutura. Em Freud, um aparelho construído a partir da interpretação dos sonhos, com inconsciente, pré-consciente e consciente. Com Lacan, trata-se de uma articulação entre Real, Simbólico e Imaginário. Tais propostas demonstram que, para eles, nosso objeto de estudo supõe uma trama em cujo centro reside uma alteridade.
Dessa alteridade, dessa outrificaçao de origem, padece nosso sujeito, uma vez que se trata de uma alteridade vazia, traumática. A psicanálise pôde tirar daí, a partir de Freud e Lacan, toda uma clínica para o sintoma. Gostaríamos de extrair desse ponto outras consequências para a lógica do laço social, a lógica coletiva.
- A alteridade, marca do impossível em psicanálise
A alteridade que nos constitui, Lacan a situou na linguagem, não como uma mensagem invertida, como no âmbito de seu primeiro ensino, mas como letra, análoga a um gérmen, que veicula um gozo. Dessa forma, estamos aprisionados a um saber de um gozo que nos é transmitido, embora ignorado. Toda essa trama, marca do impossível de se nomear, marca de uma alteridade estrutural, condena o Ser a ser seu suporte, o semblante do real, como Lacan afirma.
Do desencontro sexual dos falantes decorre essa discordância, atribuída por Lacan, entre o saber sobre essa marca da letra e o Ser como semblante. Cada Ser busca no outro um parceiro para lidar com o vazio do encontro, uma cumplicidade quanto à partilha do seu exílio da relação sexual.
Antoine Tudal, poeta citado por Lacan[6], disse-nos bem:
Entre o homem e o amor,
Existe a mulher.
Entre o homem e a mulher
Existe o mundo.
Entre o homem e o mundo,
Existe um muro[7].
Lacan pôde ler, nesse poema, que o muro da castração é, ao mesmo tempo, a abertura do impossível ao contingente de um encontro. Frente à castração não se responde com o saber, impossível de alcançar. Impõe-se aí um uso do impossível na forma de um novo amor que permita novas e diferentes maneiras de estar no mundo.
Retomo a época com que iniciamos. Época – epokhé – que, em grego, significa colocar entre parênteses. Vamos colocá-la entre parênteses para interrogar e extrair os efeitos desse impossível do amuro nas possíveis formas de laço social em que estamos aprisionados no contemporâneo.
- Segregação, a raiz do falasser e dos coletivos
A nossa época vem se caracterizando por apresentar laços sociais e coletivos que não são marcados por um ideal, não são nomeados por ele. Um mundo onde o ideal empalidece frente à elevação ao zênite do objeto a. O que os caracteriza não são mais identificações a um líder ou a uma ideia, como propôs Freud, em Psicologia das Massas, o que daria a tais agrupamentos um caráter unificador. Cito Freud:
…Teremos de considerar se os grupos com líderes talvez não sejam os mais primitivos e completos e, se nos outros uma idéia, uma abstração, não podem tomar o lugar do líder (estado de coisas para o qual os grupos religiosos, com seu chefe invisível, constituem etapa provisória) e, se uma tendência comum, um desejo, em que certo número de pessoas tenham uma parte, não poderá, da mesma maneira, servir de sucedâneo? […] o ódio contra determinada pessoa ou instituição poderia funcionar exatamente da mesma maneira unificadora […][8] [9].
Freud partiu de uma primeira função de julgamento baseada na experiência de prazer-desprazer para o que viria a constituir o eu com sua raiz de segregação. O que é mau é expulso e o bom é introjetado.
Nenhuma ordenação simbólica se dá sem deixar algo fora dela, ainda que esse algo seja depois simbolizado no interior, precisamente como ausente. É o princípio freudiano da constituição do sujeito a partir de uma exclusão primária, do rechaço originário de um objeto ou de um gozo[10].
Essa lógica, que conhecemos pela introjeção-expulsão, auxilia-nos a pensar sobre a rejeição primordial, tal como Lacan nos apresenta no Sofisma dos três prisioneiros, embora sobre um outro prisma. A lógica de uma assertiva antecipatória exige que o sujeito expulse o gozo que não é o dele: um homem não é homem porque não goza como eu… se os homens não sabem qual é a natureza do gozo deles, os homens sabem o que é a barbárie. A partir daí os homens se reconhecem entre si, e não sabem bem como[11] [12].
A pressa é uma aposta que pode incidir na proliferação de Coletivos como forma de resistência ao aniquilamento do singular e do enfrentamento à universalização das identidades. Ou seja, antes que o coletivo que está em formação parta para a barbárie e me elimine pelo meu modo singular de gozo, eu me apresso e me submeto ao significante que unifica esse agrupamento, mesmo que posteriormente eu tenha de acrescentar um “+” na denominação infinita no capítulo dos gozos.
Lógica da qual queremos tirar consequências para a prática do analista em nossa época. A segregação faz parte de toda operação simbólica e está na raiz do que entendemos por discurso do vínculo social. Nessa direção, qual o espírito de nossa época? De que forma os laços sociais na contemporaneidade atualizam o impossível estrutural que constitui a subjetividade da época? O que pode o analista frente aos efeitos deste impossível em suas diversas manifestações, sejam por grupos identitários ou coletivos de gozo?
- A desordem do gozo e os laços sociais
Ainda a época. Houve uma na qual Lacan pensava um gozo negativizável. Época do grafo do desejo ou de um significante primordial, o falo. No seu último ensino, iniciado no Seminário 20, Lacan nos traz um gozo que não é mais possível ser contido pelo significante, trazendo consequências enormes para a clínica do falasser. Porém, trazendo também uma leitura para o que cada vez mais se prolifera na cultura: uma desordem do gozo.
Laurent, em A Desordem Fálica: O Falo não Negativizável, apresenta importantes reflexões sobre novos agrupamentos, as novas identidades de gênero e raça, problematizando o que o discurso da ciência promoveria nesse campo. Necessitamos distinguir os diferentes sujeitos desses discursos. Para cada um deles encontramos sujeitos diferentes. Temos o sujeito da ciência, do qual nosso sujeito histérico se deriva, temos o sujeito do humanismo, que se aproxima da debilidade, como aponta Lacan, e temos o sujeito que domina em nossa época, o sujeito onde vigora a desordem do gozo. Podemos nos perguntar se seria o sujeito das redes sociais. Laurent traz Hannah Arendt:
O sujeito ideal da dominação totalitária não é nem o nazista convicto nem o comunista convicto, mas as pessoas para as quais a distinção entre o fato e a ficção (ou seja, a realidade da experiência) e a distinção entre verdadeiro e falso (ou seja, as normas de pensamento) não existem mais[13].
Esse sujeito se assemelha ao que prolifera no contemporâneo e que é o alvo por excelência do fascismo. Tal ideologia, se é que se trata de uma ideologia, oferece aos seus seguidores um fascínio, uma unidade entre eles e o culto à liberdade individual. Miguel Lago, em Linguagem da destruição: A democracia Brasileira em Crise, define muito bem o discurso do atual presidente do Brasil:
A vontade individual e a opinião devem ser defendidas doa a quem doer. Liberdade significa, portanto, fazer o que ‘der na telha’, sem que haja qualquer limitação aos impulsos do indivíduo… Uma sociedade em que os mais fortes mandam e podem lançar mão de qualquer recurso para fazer valer o gozo de seus impulsos[14].
Crescem os agrupamentos, sejam em torno dessa disrupção do gozo, sejam em torno de uma reação ao que esse discurso segrega. Entretanto, não são grupos homogêneos, como queria a ciência. Entre as mulheres, os negros, os imigrantes existem múltiplas identidades. E é por essa multiplicidade dos agrupamentos que o analista pode trazer sua contribuição e o discurso analítico tem o que dizer.
- “Política da Psicanálise não se faz sem a Escola”[15]
Precisamos lembrar que o gozo se distingue do prazer e que o múltiplo resulta de que o corpo não é único e nem pode ser alcançado pelo discurso. O corpo é a alteridade que não se consegue absorver, justamente porque ele é o Outro. É ele mesmo quem fala. Observamos que os corpos atuais estão separados da fala. São corpos despedaçados, pedaços de real sem mediação de um Outro que os nomeiem. Sem a dimensão do inconsciente que os atribua um sentido. Estamos em uma época em que os corpos são atravessados por dimensões políticas e não mais por sentidos sustentados por metáforas paternas. Lacan nomeou esse novo sintoma de acontecimento de corpo. Podemos extrair consequências para os novos laços sociais a partir dessa leitura do acontecimento de corpo?
Paula Borsói, traz uma elaboração refinada sobre a relação da Escola e os acontecimentos de corpo. Nessa mesma direção, encontro Helenice Saldanha, em seu texto “Notas sobre a dimensão política do corpo”. Ambas fazem interessantes elaborações sobre a afirmativa de Lacan de que o Inconsciente é a política. Quanto a transindividualidade, Helenice destaca o “caldo cultural do corpo”. Algo que vai além da tentativa de interpretar os “restos e não as insígnias”, como disse outro colega, Marcus André Vieira, do Rio de Janeiro, em “Meus dias de Branco”[16], algo que possa dar aos coletivos um lugar de resistência, frente à universalização do gozo, forjando novas identificações não segregativas.
Por um lado, observamos que o corpo vem ocupando as praças, as ruas, as esplanadas, em um apelo social para que o povo ocupe o espaço público sempre que um atentado é feito ao corpo, seja do imigrante, do negro, das mulheres, etc, Por outro lado, cada parte desse corpo passa a ser um traço imaginário de identificação que permite aos sujeitos se agruparem. Esse cenário, típico de nossa Época, demonstra como o corpo é um enigma para aquele que o tem. Um desconhecido que habitamos.
E, em uma época em que predomina a lógica do ilimitado, e o corpo se apresenta desordenado, o vínculo entre a particularidade de gozo e o universal que o coletiviza, problematizou-se de forma pregnante. Se não podemos apelar a um ideal que não funciona mais, resta, àquele que pretende abordar tal desordem, procurar circunscrever nomeações que, longe de unificar tais agrupamentos, possam se abrir para um significante vazio, como sugeriu Marcus André. Um significante que tenha o poder de enlaçar os sujeitos desse agrupamento, servindo de sujeito para esse coletivo, em consonância com a máxima lacaniana de que o coletivo não é mais do que o sujeito do individual.
Há uma colocação de J.-A. Miller que nos dá uma pista para interpretar esse novo dos laços sociais. “Em Direção à Adolescência”, ele interroga sobre a nova aliança entre a identificação e a pulsão. Ele nos alertava que as identificações, para Lacan, partiam do desejo do Outro, mas será que elas ainda se articulariam dessa forma? Ele diz:
…Eu me perguntava se, no fundo, o corpo do Outro não se encarna no grupo. O bando, a seita, o grupo, não dão um certo acesso a um eu gozo do corpo do Outro do qual faço parte? Não seria possível uma nova aliança entre a identificação e a pulsão?…[17]
Trazer essa aliança, entre a pulsão e a identificação, pode nos orientar sobre os novos coletivos que se organizam em torno da fantasia e do gozo, expressões de um corpo pulsional?
Abro, assim, a conversa sobre os efeitos da Política da Psicanálise em um dispositivo de Escola, onde possamos fracassar da melhor maneira, ou seja, sem fugir ao não-todo que nos singulariza e nos impõe um coletivo. A Escola – nos disse Romildo – não é só um local de formação, nela está contida uma crítica ativa, prática e teórica ao funcionamento social como tal[18]. Esperamos que, dessa primeira conversa de Escola e na Escola, possam surgir novos trabalhos, pontuações, inquietações que irão alimentar nosso XXIV Encontro Brasileiro em novembro próximo.
Margarida M. Elia Assad (EBP/AMP)
[1]N. E.: Relatório apresentado na 3ª Preparatória para o XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, em 01.09.2022. Cartel sobre o tema do Eixo 3, composto por: Anamáris Pinto, Ana Tereza Groisman, Louise Lhullier, Lucíola Macêdo, Margarida M. Elia Assad (Mais-Um e relatora), Pablo Sauce, Romildo do Rêgo Barros, Rômulo Ferreira da Silva e Ruskaya Maia.
Lispector, C. A Paixão segundo GH. Editora Nova Fronteira. 1979.
[2] N. A.: Frase do Emicida – Leandro Roque de Oliveira, no twitter.
[3] Miller, J.-A. “Ponto de basta”. Opção Lacaniana. N. 79, julho 2018.
[4] Lacan, J. “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”. Escritos. Jorge Zahar. 1998.
[5] Ibid. p. 259.
[6] Ibid. P. 290.
[7] Tudal, A. Em Paris, 2000.
[8] Freud, S. (1966) “Psicologia de Grupo e Análise do Eu”. In: ESB, Vol XVIII, RJ. Imago.
[9] Citado por É Laurent no texto “O Além do Falo”, A desordem do Ilimitado. In: Opção Lacaniana, n 84.
[10] Bassols, M, “O Bárbaro. Transtornos de Linguagem e Segregação”. Opção Lacaniana On-line. N 25 e 26.
[11] Laurent, É. O racismo 2.0. Disponível em: http://ampblog2006.blogspot.com/2014/02/lacan-cotidiano-n-371-portugues.html
[12] N. A.: É. Laurent faz essa leitura a partir do texto “O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada”, de Lacan, onde o autor descreve sobre a asserção subjetiva antecipatória.
[13] Arendt, H. In As origens do totalitarismo. Citado por Laurent, É. “A Desordem Fálica: O Falo Não Negativizável”. Opção Lacaniana. N. 84. p. 52.
[14] Starling, H; Lago, M; Bignotto, N. Linguagem da Destruição. A Democracia Brasileira em Crise. Companhia das Letras. 2022. São Paulo.
[15] Borsói, P. “Democratizar a psicanálise?”. Correio. Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. São Paulo. N 87.
[16] Vieira, M. A. “Meus dias de branco”. Disponível em: https://www.ebp.org.br/correio_express/2022/04/18/meus-dias-de-branco1/
[17]Miller, J.- A. “Em direção a adolescência”. Em: Opção Lacaniana, n. 72. São Paulo: Eolia. 2016. P. 20-30.
[18] Barros, R. Do R. “Sobre Grupos”. Disponível em: http://ea.eol.org.ar/04/pt/template.asp?lecturas_online/textos/rego_barros_sobre.html
Editorial – Punctum Extra II
Esta edição extra do boletim Punctum torna público todos os vídeos com as apresentações realizadas por zoom rumo ao XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano: a atividade de lançamento e as três preparatórias sobre os eixos temáticos! São registros preciosos que nos fazem ler, para além dos textos, o que se escreveu na conversa entusiasmada entre os integrantes dos cartéis, o instante quando, ao vivo, acontece o que chamamos de elaboração provocada em um trabalho de cartel.
Vocês também terão acesso ao relatório sobre o eixo III « O impossível e o laço: o analista e a época » apresentado por Margarida Assad e as notas com as provocações de Laura Rubião na última preparatória. Os trabalhos das outras atividades também podem ser consultados nos boletins anteriores, bem como os textos de orientação e os divinos achados da bibliografia, além dos vídeos de entrevistas com nossos colegas do campo freudiano.
Temos também uma novidade: os Flashes! São pequenas pérolas produzidas por colegas da EBP que foram enviadas por e-mail e que agora acabaram de ganhar uma aba no site do encontro.
Venha! Participe! Sirva-se desse material escrito, visual e sonoro como uma provocação, um convite para elaborar o grão da sua prática clínica e marcar sua presença no Encontro Brasileiro. Convidamos você a escrever, a partir da sua experiência, Analista: presente!
A comissão científica o aguarda até o dia 18 de setembro. Não perca tempo, apresente-se ! O instante é agora : augenbrick !
Fernanda Otoni Brisset
Coordenadora da Comissão Científica