Nos dias 25 e 26 de novembro deste ano, realizaremos o nosso XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que leva adiante uma série iniciada em 1987. O Encontro, como se sabe, é anterior à Escola, que seria fundada em 1995.
Desta vez, seguindo a ordem do rodízio entre as Seções, sua organização cabe aos colegas de Minas Gerais, sob a direção de Laura Rubião e coordenação geral de Glória Maron e Lucíola F. de Macedo.
Seu tema, proposto pela Diretoria Geral da EBP, visa pôr em discussão certos aspectos e imposições da nossa época. Para citar uma só dessas imposições, pensemos na grande importância que passou a ter a nova tecnologia da comunicação. Do lado dos analistas, impõe-se o dever de estarem, segundo ensinava Lacan, à altura da subjetividade da sua época, que, me parece, é de aplicação geral: o analista tem que estar, em permanência, adequado a seu tempo.
Um bom exemplo é sem dúvida o desafio trazido pela pandemia, que em princípio nos teria silenciado, não fosse o recurso a instrumentos que eram, até então, estranhos à nossa prática. Os novos instrumentos não são eles próprios uma nova subjetividade, mas servirão, numa medida que ainda desconhecemos, para transformações da psicanálise na nossa época.
No primeiro sentido do tema do Encontro, temos um analista que diz presente! às demandas que recebe. É importante pensar que essas demandas, à semelhança das marcas de cada época, são mutáveis. São “desdobráveis”, como escrevia Adélia Prado sobre a mulher.
O analista, como a mulher, é desdobrável, e isto tem consequências. A primeira delas é que ele, assim como ocorre quando recebe uma demanda de análise, não sabe de antemão o que vai acontecer, e menos ainda quando lança mão do seu computador ou do seu telefone, suplementares do antigo setting, para entrar em contato com um paciente.
Só o tempo dirá com maior clareza os efeitos e o sentido desse acréscimo e desse gesto inédito, que, ao que tudo indica, vieram para ficar, de alguma forma. Uma coisa pelo menos é certa: após essa experiência, nós nos tornamos sem dúvida mais sensíveis à contingência, longe do dogmatismo que a epidemia reserva aos negacionistas mais empedernidos.
A distinção entre os vários campos e situações nos quais o nosso título tem cabimento, tarefa que cabe inicialmente à Comissão Científica, nos mostrará o quanto a nossa prática merece este adjetivo escrito pela poeta: desdobrável.
Que o nosso Encontro possa ser, além da reafirmação da presença do analista no mundo e na distribuição do saber, algo próximo de um ato: presente!
Romildo do Rêgo Barros
Presidente do XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano